domingo, julho 18, 2004,
 

As meninas,


Ilustração por Anibal.



As calcinhas ali no varal, choravam molhadas,
cada qual vizinhas. Mas se sentiam sozinhas e sempre
dadas. Tinham cores, todas elas; Bordo, Rosa,
Vergonha e Sem-vergonha.

A mais rosa delas, dizia;

- Tia. Adoro bonecas, são tão bonitas, magras,
sedosas. Gulosas essas pragas, beberam todo o chá as
sapecas.

Uma que já tinha pouca linha e já passado, desses
laçados de boneca. Não era mais moleca, era bordo:

- Ai que horror! Viram só vizinhas? Aquela
calcinha, de cara vermelha, ela acha que é rainha e
abelha. Desse cortiço, esse viço feminino, de trapos
pequeninos.

Pobre da Vergonha, ali tristonha, ainda sonha
malícia; Que havia, aprendido sem querer, coisa da
idade precisa saber.

- Ai vergonha, ponha seus sonhos cá. Dizia Semvergonha
com tua cor que ninguém sabe qual é, cor de
sem-vergonha.

- Tonha, não há o que sonha, cada homem sabe
que não importa cor, por sermos só pra tirar.

Victor Tales.
 


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